Todas as quintas-feira e em parceira com o grupo ACF, nós do ImpactOeste Notícias, contamos histórias de pessoas que transformaram seus desafios em inspirações através da corrida. Hoje, trazemos o relato emocionante e transformador de Francielly Elis Loks, uma mulher cuja vida foi marcada por um acidente devastador, mas que se ergueu com força, fé e determinação, tornando-se um exemplo vivo de superação.
Francielly nasceu há 34 anos em Nova Aurora, no interior do Paraná, uma cidade marcada pela tradição e pelo espírito de família. Criada pela mãe, Jacinta, e pelos avós Nilza e Vitor Locks, ela sempre soube o valor da união familiar. Seu avô foi um dos fundadores de Nova Aurora, e a história de sua família está entrelaçada com o desenvolvimento da cidade, especialmente na pequena comunidade de São José, onde passaram a vida.
Fran relembra com carinho de sua infância simples, repleta de amor e raízes firmes no interior. Desde jovem, sonhava com um futuro promissor e, em 2009, decidiu deixar sua cidade natal para buscar seus sonhos acadêmicos em Toledo, onde ingressou na PUCPR para cursar Ciências Biológicas. A mudança trouxe novos horizontes, mas também um evento que mudaria sua vida para sempre.
Era um domingo, 27 de novembro de 2011, e se preparava para um chá de panela em Toledo, sem imaginar que aquele dia marcaria o início de sua maior provação. A caminho do evento, de moto, ela se envolveu em um grave acidente com um carro. O impacto foi devastador. Fran foi socorrida e levada ao Hospital Bom Jesus, onde passou 11 dias na UTI, lutando por sua vida.
Jacinta Elis Loks, a mãe de Francielly, sempre foi um exemplo de fé inabalável. No dia do acidente, ela estava montando a árvore de Natal com sua afilhada Beatriz, quando recebeu a ligação que nenhuma mãe gostaria de receber. "Eu não sabia o que fazer, mas imaginei que fosse um acidente simples", relembra Jacinta. Sua afilhada, percebendo a preocupação em seu rosto, pediu ao primo Helder que a levasse até Toledo. Ao chegar ao hospital, Jacinta encontrou as amigas de Francielly do lado de fora, mas foi autorizada a entrar.
“Quando entrei e vi minha filha coberta por lençóis e cheia de equipamentos e tubos, eu simplesmente não podia acreditar no que estava vendo", conta Jacinta, emocionada. Ela permaneceu ao lado de Francielly todos os dias, acompanhando todas as visitas da UTI e fazendo suas orações. "Eu passava água benta nos olhos e na boca dela, pedindo à Nossa Senhora Aparecida por um milagre." E foi com essa fé que Jacinta acreditou na recuperação da filha, sempre ao seu lado, nunca deixando a esperança esmorecer.
Ela sofreu um traumatismo craniano severo, fraturas em ambas as clavículas e uma fratura exposta do fêmur esquerdo. Além disso, a pele de sua perna esquerda foi severamente danificada, exigindo cirurgias plásticas e enxertos. O processo de reconstrução foi complexo e doloroso. O tecido necessário para o enxerto foi retirado inicialmente da coxa direita, mas a cirurgia falhou, levando a um novo enxerto, desta vez retirado das canelas e do abdômen.
Durante oito meses, não conseguiu andar. O fêmur esquerdo se consolidou torto, formando um calombo ósseo que deixou uma diferença de tamanho entre suas pernas, uma sequela que ela carrega até hoje. Apesar da gravidade do acidente, ela não se lembra de nada do que aconteceu naquele dia ou dos momentos no hospital. Porém, o que mais a marcou foi a fé inabalável de sua mãe, Jacinta, que nunca deixou de orar e confiar no milagre.
"Estou aqui hoje por um milagre de Deus e da Mãe Aparecida", diz Francielly, emocionada. Sua mãe, devota de Nossa Senhora Aparecida, levava água benta todos os dias ao hospital, passando nos olhos e na boca da filha. Esse ato de fé, segundo Fran, foi crucial para sua recuperação. Ao retornar para casa, no dia 18 de dezembro de 2011, o primeiro rosto que ela reconheceu foi o de seu avô. O reencontro com sua família foi um momento de renascimento, mas também o início de uma longa jornada de reconstrução.
No começo, enfrentou crises emocionais intensas. "Eu chorava e me perguntava por que isso aconteceu comigo. Por que eu estava assim?," ela lembra. A dor física era acompanhada pelo medo de nunca mais voltar a andar, correr ou viver plenamente. Foram momentos sombrios, mas, como ela sempre destaca, Deus nunca deixou de estar ao seu lado, dando forças para cada batalha vencida.
Sua devoção à Santa Rita de Cássia foi outro ponto de apoio. Durante a recuperação, ela se apegou profundamente à santa, rezando novenas e fazendo orações constantes. Para ela, foi Santa Rita quem a ajudou a retomar os passos, reconstruindo sua confiança e possibilitando que voltasse a andar e, mais tarde, a correr.
As cicatrizes deixadas pelo acidente são visíveis em suas pernas, abdômen e ombros. Durante muito tempo, Fran precisou lidar com olhares e comentários indelicados. "Até me disseram para fazer uma tatuagem sobre as cicatrizes, mas a verdade é que eu amo as minhas pernas e as minhas cicatrizes. Elas fazem parte de quem eu sou, são a minha história escrita no meu corpo", afirma com orgulho.
Mais do que físicas, as cicatrizes representam sua luta, sua vitória diária e sua transformação. Ela não apenas aceitou suas marcas, mas as abraçou como um símbolo de tudo o que conquistou e do que é capaz de superar.
Em 2018, depois de anos de recuperação e desafios físicos, Francielly mudou-se para Cascavel e decidiu enfrentar um novo medo: correr novamente. Inicialmente, ela corria curtas distâncias na academia e pela cidade, mas sempre com receio de que algo pudesse acontecer com sua perna. No entanto, aos poucos, foi ganhando confiança e descobriu na corrida uma nova paixão.
"Comecei correndo 2 km, depois 3 km e, em 2023, já estava correndo 4 km na Avenida Tancredo", conta com entusiasmo. Mas foi em dezembro daquele ano, na corrida da Unimed – Paixão por Correr, que ela experimentou, pela primeira vez, a verdadeira emoção de uma competição. "A sensação de cruzar a linha de chegada foi indescritível. Foi como se todas as dificuldades, todas as dores tivessem valido a pena. Eu estava correndo não apenas com as minhas pernas, mas com o meu coração."
A partir desse momento, não parou mais. Seus treinos, inicialmente solitários, ganharam força com o apoio de amigos como Danielle Gasparini e com a entrada no grupo de corrida ACF, liderado por Tati Libório, que se tornou uma grande amiga e incentivadora. Ela começou a aumentar as distâncias, chegando a correr 6 km, 8 km e, finalmente, 10 km.
Com a corrida veio também a necessidade de ajustes. Passou a usar palmilhas compensatórias devido à diferença no comprimento das pernas. No entanto, as novas palmilhas trouxeram problemas – bolhas dolorosas que a afastaram dos treinos por semanas. Mas, com a ajuda de seu fisioterapeuta, ela conseguiu superar mais essa adversidade, adaptando as palmilhas e voltando às pistas.
Em julho de 2024, ela viveu mais uma conquista ao completar sua primeira corrida de 10 km na Meia Maratona de Curitiba. A alegria e o orgulho de completar essa prova foram acompanhados da certeza de que não existem limites para quem tem fé e determinação.
Hoje, Fran continua correndo, desafiando seus limites e provando que as cicatrizes de seu corpo não são marcas de fraqueza, mas de força. "Deus está sempre no comando de tudo", ela afirma, com gratidão por cada passo dado, cada quilômetro percorrido.
Mais do que isso, Fran se tornou uma referência para outros corredores, mostrando que, mesmo com limitações físicas, é possível ir além. O grupo ACF se tornou uma verdadeira família para ela, um espaço de apoio e celebração mútua. "Aqui, aprendi, compartilhei e vibrei com as vitórias dos meus amigos. É maravilhoso estar cercada por pessoas que torcem por você."
Ao refletir sobre sua jornada, ela expressa sua profunda gratidão. "Sou grata a Deus, à minha mãe, que sempre esteve ao meu lado, ao meu treinador e aos meus amigos que nunca me deixaram desistir."
Hoje, Francielly Elis Loks é mais do que uma corredora. Ela é uma mulher que, após enfrentar o pior, encontrou uma nova forma de viver – com paixão, determinação e gratidão. Sua história nos lembra que, por mais profundas que sejam as cicatrizes, a força interior sempre pode nos guiar rumo à vitória.
"Eu sou apaixonada pela corrida e imensamente grata a Deus por viver cada experiência, cada quilômetro corrido. A cada nova corrida, redescubro quem sou e o quão longe posso ir.